Distanásia em Projetos
Eu e minha esposa temos o hábito de conversar sobre o trabalho um do outro quando chegamos em casa. Certo dia conversa vai, conversa vem e eis que surge o termo: distanásia! Na hora parei, pois não conhecia o significado e obtive a seguinte definição: distanásia é uma prática de prolongar a vida de um paciente considerado pela medicina incurável ou sem chances de recuperação. Inevitável para mim não associar isso a projetos! Quantos projetos conhecemos que estão em fase terminal e mesmo assim continuamos a investir nele?
Pesquisando um pouco mais sobre o termo, o Wikipédia apresenta a seguinte definição:
Distanásia é a prática pela qual se prolonga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um enfermo incurável.
No mundo dos projetos o que mais vemos por aí são projetos inúteis que nem sequer sabemos por que e para quem estamos fazendo aquilo. Projetos obsoletos ou que já foram superados por uma tecnologia mais avançada, continuam em nossas carteiras. Projetos com desvios de cronograma em 70, 150, 250% que mesmo assim continuam sendo repactuados, com a intenção de que um dia ele seja concluído.
A pergunta é: para que prolongar projetos desta natureza? Se já não faz mais sentido entregar tal projeto, por que continuar investindo?
Nestes casos a mudança de mindset é fundamental e obrigatória, e passa pela célebre frase de Peter Drucker: “Não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência algo que não deveria ser feito”, ou pela citação de Russel Ackoff “Quanto mais certo fazemos a coisa errada, mais errados nos tornamos”. Precisamos, antes de investir maiores esforços nos projetos, validar a nossa hipótese, ou seja, mudar o paradigma da eficiência para a eficácia e saber de fato se aquilo é o certo a se fazer.
O fato é que as pessoas são resistentes a mudança e o excesso de otimismo atrapalha um pouco. Trocamos o time, contratamos consultoria, pedimos mais recursos e fazemos de tudo para não deixar aquele projeto morrer, sendo que nada mais adianta. Ainda há o apego emocional a determinados projetos até mesmo pessoal quando ao invés do cliente, são os gerentes que julgam se aquele projeto deve ou não ser feito.
E como vamos fugir dessa armadilha? Vou trazer três boas práticas aqui que entendo como essenciais para não chegarmos a esse ponto:
Fail fast: se você tem que falhar, que falhe logo e aprenda com isso. No Brasil essa cultura ainda é pouco explorada, pois errar aqui é muito caro. Outra observação é que ninguém gosta de errar, mas é melhor perder pouco e aprender do que investir demais e perder muito lá na frente.
Ciclos de feedback: trabalhe constantemente com o seu cliente. Peça a ele feedbacks do avanço do seu trabalho, essa pratica diminui o risco. É muito melhor já ir fazendo o certo desde o começo. Imagine um projeto com apenas uma entrega final, o risco do erro é muito maior.
Validar hipóteses: Temos muitas ideias de novos projetos, novos requisitos. Uma extensa lista no backlog. Será que tudo que está ali precisa ser feito? No Software Zen a fórmula é a seguinte: ? min(t) !, onde o ponto de interrogação é a sua hipótese, o ponto de exclamação é a sua hipótese validada e entre um e outro está o tempo. Quanto antes validar, melhor.
Evite o desperdício, não prolongue a vida de um projeto fadado ao fracasso. Quantos milhões são gastos anualmente para corrigir falhas ou repactuar projetos? Você não vai acertar sempre, mas pode aumentar muito este percentual.
Encarregado de Dados – DPO do Governo do Estado do Espírito Santo e Coordenador da Política de Dados Abertos da Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos. Cientista de Dados pela USP. Professor de Métodos Ágeis – Scrum e Kanban na Universidade de Vila Velha – UVV.
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